Como sobreviver à Era da (Des)informação

Você se considera uma pessoa proativa e curiosa. Quer se destacar como profissional e por isso busca sempre acompanhar os principais blogs, portais de notícias e canais do Youtube do seu interesse.

Encontrar conteúdo de qualidade não é um problema para você pois, ao longo dos anos, você desenvolveu um filtro mental super eficiente que consegue eliminar pelo menos 90% dos conteúdos ruins.

Mas, justamente por ser proativo em consumir o máximo de informações de qualidade que aparecer no seu radar, você sofre de ansiedade por simplesmente não conseguir colocar em dia todas as referências que chegam até você.

E, principalmente, se culpa por não ter tempo para colocar em prática tudo o que aprende.

Esta situação lhe soa familiar? Se sim, bem vindo ao clube.

O medo de perder alguma informação importante vai matar você

Nesta altura do campeonato, você já deve ter ouvido falar da síndrome FoMO (Fear Of Missing Out). A Wikipedia define FoMo como “”uma apreensão generalizada de que os outros possam ter experiências gratificantes das quais se está ausente”. Essa ansiedade social é caracterizada pelo “desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo”.

A FoMO é mais comuns em jovens e adultos entre 15 e 34 anos, mas, segundo especialistas, pode acontecer pessoas de qualquer idade. Esta síndrome é utilizada para justificar o uso excessivo das redes sociais por parte de adolescentes, mas também pode ser relacionada com o sentimento de culpa que muitos adultos sentem ao não conseguir acompanhar o ritmo das informações.

Altos níveis de ansiedade e estresse decorrentes do FoMO podem causar no longo prazo doenças crônicas (e muitas vezes irreparáveis) como hipertensão, diabetes e disfunção erétil.

Apesar de ser considerada uma síndrome, a FoMO está diretamente ligada com nosso DNA, moldado por milhares de anos de evolução nos quais nós, para sobrevivermos, tínhamos que estar a par com o que estava acontecendo no grupo – quem era o mais forte, quais era o mais fraco, quem estava doente, quem estava com raiva de quem…

Ou seja, a FoMO é uma versão exagerada de uma habilidade que nos auxiliou durante séculos e, por isso, é quase impossível de ser controlada com pura força de vontade.

A boa notícia?

Com um pouco de disciplina e dois passos simples que vou ensinar neste texto é possível viver sem a angústia e estresse gerada pela FoMO em um mundo sobrecarregado de informações.

Mas antes, precisamos mudar nossa mentalidade.

Se você não escolher, alguém vai fazer por você

Em um mundo perfeito, todo mundo teria tempo e energia para consumir todas as informações que quisessem. As pessoas iriam acordar e começar o dia se atualizando com as notícias do dia, ao chegar no trabalho iriam conferir todas as novidades da empresa e do nicho de atuação.

Ao longo do dia elas iriam assistir todos os vídeos do Vsauce, do Nerdologia, da Vox e do New York Times, além de ler os artigos diários da Forbes e do Seth Godin. Ao chegar em casa, elas iriam relaxar assistindo suas séries favoritas na Netflix.

E para completar, até ler um pouquinho daquele livro bestseller.

Tudo isso, é claro, sem deixar de lado seus compromissos profissionais (atualizar relatórios, participar de reuniões, aplicar ações estratégicas, organizar seus projetos…) e pessoais (tomar café da manhã com a esposa, levar os filhos à escola, sair com os amigos ou com a namorada, lavar a louça, fazer pequenos reparos em casa…).

Mas, como todos nós sabemos, o mundo não é assim.

A verdade nua e crua é que precisamos fazer escolhas. E se você não escolher o que consumir, outras pessoas (geralmente produtores de conteúdo e profissionais de marketing especializados em usar gatilhos emocionais para prender sua atenção) irão fazer por você.

E como fazer as escolhas certas?

Primeiro passo: defina seus princípios

Princípios são regras de conduta que te ajudam a tomar as decisões corretas sem precisar refletir muito no dia a dia. São regras pessoais que precisam ser elaboradas com consciência e cada pessoa deve ter os seus, não existindo um princípio certo ou errado.

Gosto de ver os princípios como um Manual de Conduta pessoal no qual eu posso confiar para tomar as decisões compatíveis com os meus objetivos de vida.

Por exemplo, se um dos meus objetivos de vida é ser o melhor profissional de marketing do Brasil, um dos meus princípios deve ser “conhecer os fundamentos do marketing e manter-me atualizado com os cases de sucesso do mercado”.

Com esse princípio bem definido, fica fácil escolher entre ler um livro do Kotler sobre Marketing ou assistir um documentário sobre o acasalamento de baleias azuis no Discovery Channel.

Não que a última opção seja ruim, só não está alinhada com os meus princípios. O mesmo vale com fazer maratonas de séries na Netflix, encher a cara com os amigos e ficar de ressaca por uma semana, ou jogar videogame.

Você pode começar a definir os seus princípios documentando todos os seus objetivos de vida. Eu recomendo criar no máximo dez princípios e revisá-los pelo menos uma vez por ano.

Conforme você evolui seus princípios podem mudar e isso é natural, não se preocupe.

Segundo passo: use a tecnologia para entender como você usa o seu tempo

Por muitos anos, eu fui fanático por canais de ciência do Youtube. Em uma determinada época me lembro de estar inscrito em mais de 200 canais com publicações diárias.

Por ironia do destino, em um desses vídeos, vi a recomendação de uma ferramenta de produtividade que consegue mensurar com ótima precisão quanto tempo você gasta em cada site ou programa do seu computador e celular.

Instalei a ferramenta e deixei ela monitorando minhas ações por uma semana. O resultado foi assustador: eu passava em média duas horas por dia no Youtube!

Duas horas por dia são 60 horas por mês. Que se tornam 60 horas por mês e 720 horas por ano exclusivamente assistindo vídeos no Youtube.

Sei que os números parecem exagerados e que você pode pensar que meu caso é fora da curva, mas te convido a instalar a ferramenta (eu usei a RescueTime, mas existem várias) e veja como você se sai no teste.

Assistir mais de 700 horas de vídeo sobre ciência por ano é ruim? Claro que não, e poderia ser muito pior se os vídeos fossem de entretenimento barato, que não agrega qualquer conhecimento.

Inclusive, eu aprendi bastante e vários vídeos me despertaram para questões que eu jamais iria ter contato se não fosse pelo Youtube. Mas dá para imaginar o quanto você pode conquistar em um ano na sua vida pessoal e profissional, simplesmente focando essas horas em uma tarefa mais alinhada com seus princípios?

Não dá para imaginar, e foi por isso que imediatamente eu cancelei a minha inscrição em todos os canais de ciência. Por coincidência ou correlação de causa e efeito, nos dois anos seguintes eu criei e tripliquei (do 1° para o 2° ano) meus clientes de consultoria, me mudei para duas cidades, virei competidor de Jiu-Jitsu e construí o Portal Insights.

A questão não é qualidade (todos os vídeos eram e ainda são ótimos), mas sim o custo-benefício.

Com princípios bem definidos e uma clareza sobre como o seu tempo é usado hoje, você pode reorganizar suas tarefas e tomar decisões mais alinhadas com seus objetivos de vida. No curto prazo pode parecer besteira mas, como disse Gary Vaynerchuk, considerando que você não vai morrer este ano, os seus maiores objetivos de vida deveriam ser de longo prazo.