Como publicar seu livro sem gastar dinheiro

Quando decidi escrever meu primeiro livro, eu sabia que enfrentaria algumas dificuldades, só não sabia quais seriam elas. Hoje, depois de alguns anos já atuando no mercado literário, ainda que como artista independente, vou falar um pouco sobre como publicar seu livro sem gastar dinheiro, mas essa jornada começou há alguns anos…

Na época, eu tinha 17 anos e muita vontade de escrever, mas sabia muito pouco sobre o processo de construção de um livro e, menos ainda, sobre como publicar.

Enquanto desenvolvia e aprendia sobre técnicas de escrita, fui, ao mesmo tempo, procurando quais eram minhas opções enquanto escritor desconhecido.

De lá pra cá, muitas coisas aconteceram, e hoje eu compartilho com vocês como publicar seu livro sem gastar dinheiro algum com impressão e diagramação.

A primeira opção de todo autor

Algo com que todo autor, ou praticamente todo autor, espera é um contrato com uma grande editora para ter seus livros publicados. Infelizmente, em um mercado altamente competitivo e saturado, existem algumas dificuldades nesse processo.

A primeira grande dificuldade é, justamente, o volume de concorrentes diretos. A cada dia, com a popularização de meios de comunicação e a entrada de outros players no mercado literário (vide celebridades da internet), conseguir espaço para ser contratado por uma editora se faz mais complexo.

Como todo negócio, editoras querem fazer dinheiro e, como os livros são produtos e os escritores são as próprias marcas, é necessário investir em conteúdo já conhecido pelo mercado e pelo público.

Autores desconhecidos, ao menos no mercado literário brasileiro, tem bem menos chances de conseguir entrar no segmento por um motivo óbvio: os riscos de não vender são grandes.

Somado a isso, há ainda o grande desafio de se inserir culturalmente diante de uma população com baixos hábitos de leitura e ainda passando por um processo de universalização da alfabetização. Essa baixa “erudição” estrito senso impacta diretamente, inclusive, na percepção que se tem dos produtos culturais.

Há a famosa “síndrome do vira-lata” diante de materiais culturais brasileiros e essa baixa aceitação de autores regionais e nacionais diminui ainda mais o interesse das editoras em artistas independentes ou em começo de carreira.

Se você acha que não é bem assim, basta perceber como se preferem clássicos internacionais aos nacionais. Em termos de aceitação de público, livros estrangeiros ganham muito mais destaque.

Por esse fator e pelo sucesso garantido que alguns best-sellers oferecem (vendeu bem nos EUA vai vender bem em outros lugares), as editoras costumam não investir bem em escritores em começo de carreira. Foi a conclusão que cheguei com meus 17 anos e, diante disso, precisei procurar novas opções.

A segunda opção de todos os autores

Diante da perspectiva de ser ignorado por editoras grandes (como fui, de fato, ignorado ao enviar meus materiais e e-mails), decidi procurar por uma alternativa que me desse mais liberdade para escrever sobre os temas do meu interesse, da maneira que melhor me conviesse.

Meu primeiro livro, A Pergunta no Espelho, estava escrito já nessa época, e eu procurava uma maneira de lançá-lo. Foi quando descobri as Prestadoras de Serviço.

Basicamente, são gráficas que oferecem serviços editoriais como diagramação, revisão e arte de capa para o livro, além da própria impressão. Tudo isso, claro, a um custo. E sendo um rapaz latino-americano eu não tinha dinheiro no banco nem amigos importantes, por isso, não pude ir por esse lado.

As prestadoras de serviço oferecem um produto mais imediato e que corresponde exatamente ao que deseja, ao contrário das grandes editoras que interferem bastante no produto final para criar um livro mais comercial. Por um lado, senso crítico nenhum, do outro, muitas interferências criativas.

Além disso, dependendo do volume, prestadoras de serviço podem sair muito caras, e isso desmotiva muitos escritores iniciantes, sem dinheiro nem maneiras de viabilizar o projeto.

Mais uma vez, esse também era meu caso. Desconhecido, jovem e sem um real para gastar, era preciso procurar ainda outro meio, que não esse já fora das mídias de produção tradicionais.

O plano b para quem sabe procurar

Talvez esse fosse o plano C, mas as duas opções acima ainda lidam com dinheiro particular. Passado certo momento, enquanto procurava por maneiras alternativas de publicação, me foi sugerido uma Lei de Incentivo à Cultura.

Resumindo de maneira brusca, essas leis utilizam de verba pública destinada à cultura e passam por escritórios dentro das prefeituras. Como cada prefeitura vai gastar, cabe a ela, mas na minha cidade havia uma Lei de Incentivo que abria editais anualmente para autores tentarem inserir seus projetos e receberem verba.

Era necessário oferecer toda uma série de documentos e justificativas que caracterizassem o livro como um investimento válido para a prefeitura. Mesmo que fosse dinheiro público, era preciso aplicá-lo bem em projetos que realmente trouxessem acréscimos à cultura local.

Nesse período, liguei para gráficas, editores, revisores, diagramadores, artistas de capa e, com isso, fui adquirindo mais conhecimento técnico sobre produção editorial.

Recolhidas as informações, apliquei meu projeto e fui recusado na segunda fase, a de avaliação de argumento. Sequer cheguei à fase de avaliação de conteúdo, e isso frustrou ainda mais meus planos. Já com 18 anos minhas chances de me tornar um jovem best-seller e não precisar fazer faculdade foram frustradas.

Fiz o ENEM, engavetei o projeto do livro e segui, em parte, com minha vida. Foi quando, na virada para 2016, eu tive uma ideia.

O plano C e a terceira via

Nesse momento já havia desistido de qualquer expectativa em torno do mercado tradicional e de iniciativas públicas. Como qualquer clichê de jovem artista, estava revoltado. Com isso, decidi optar por uma decisão e uma saída que me agradassem mais.

Junto de mais três amigos, fundamos um site de cultura colaborativa para artistas independentes: o Pergaminho Virtual.

Meu propósito com o site era o de profissionalizar artistas em diferentes segmentos para que eles pudessem rentabilizar seus projetos. Por um ano, estruturei nosso site e fui me juntando aos mais diversos colaboradores, de diferentes lugares.

Em 2017, apliquei o que, no marketing, poderia ser chamado de MPV, mínimo produto viável. Escrevi um conto de 50 páginas chamado A Pedra no Caminho e fiz toda a produção de capa, diagramação e desenvolvimento por conta própria. Em seguida, lancei-o de forma digital em nosso site.

Funcionou, para mim, por diversas razões. A primeira foi desenvolver minha primeira história e meu primeiro produto sozinho, meu objetivo principal. O segundo motivo foi mensurar como as pessoas se relacionavam com um e-book e com o nosso site. Peguei alguns resultados e alguns dados, continuei elaborando meus projetos.

Além disso, com o Pergaminho Virtual eu decidi começar a aplicar um pouco do que é o conceito de 1000 fãs reais.

Do MPV ao meu primeiro livro

Novembro foi se aproximando e comecei a perceber que estava ficando velho. Tive uma crise dos 20 anos em 2017 ao me comparar com grandes nomes da literatura brasileira na época do romantismo e sentia que precisava dar continuidade aos meus materiais autorais.

Lembrei-me do meu primeiro livro, escrito e esquecido em uma pasta dentro do computador e uma gaveta de casa, esperando mais revisões e comentários críticos.

Reli algumas vezes e fiz várias correções, ainda sem conseguir encontrar um resultado que me agradasse. A data de lançamento prevista era 20 de novembro, meu aniversário, outubro estava batendo à porta e eu não tinha sequer pensado na capa.

“Mas, João, como você conseguiu publicar seu livro sem gastar dinheiro?”

De volta à 2015, quando procurava informações sobre os métodos de produção, eu encontrei a plataforma da Amazon chamada KDP, Kindle Direct Publisher. Essa plataforma tem o intuito de fornecer aos autores uma maneira direta e rápida de publicarem seus livros tanto de maneira digital (para o Kindle) quanto um exemplar físico (vou chegar nessa parte ainda).

E como eu fiz tudo? Vou ensinar abaixo e você também vai ter esse poder em suas mãos.

Como publicar seu livro sem gastar dinheiro

Tudo começa, é claro, com o livro pronto. Depois de corrigir a história cinco vezes, senti que era hora de seguir em frente. Comecei o design da capa, inicialmente à mão e depois digitalmente. Dessa vez, eu mesmo fiz todo o projeto, sem contar com a ajuda da designer que fez a capa d’A Pedra no Caminho.

Dentro da plataforma da KDP, você encontra um menu para os autores que te oferece um passo a passo claro e intuitivo sobre qual será o formato e o estilo do seu livro.

Depois, você baixa um app para o Microsoft Word que serve para diagramar o seu livro. Então, primeiro, à forma, já que sobre conteúdo seria necessário fazer um post próprio.

Como diagramar seu livro

Basta instalar e inicializar o aplicativo do Kindle no seu Word e começar a editar o livro. O próprio app oferece um tutorial básico sobre como fazer a edição, e existem alguns pre-sets que agilizam tudo.

Um livro simples tem a seguinte organização:

    1. Folha de rosto;
    2. Registro autoral e ISBN;
    3. Dedicatória;
    4. Citação;
    5. Apresentação;
    6. Introdução;
    7. Sumário;
    8. Prólogo (dependendo do livro);
    9. Capítulos;
    10. Epílogo (dependendo do livro);
    11. Agradecimentos;
    12. Índice;
    13. Referências bibliográficas (se precisar).

De maneira geral, todos os capítulos devem começar na página ímpar, embora, caso seja seu primeiro projeto, como foi o meu, isso não se faça uma regra tão rígida.

Além disso, alguns dos elementos são opcionais e dependem do material do livro (científico, fantasia, etc.).

Com a diagramação feita, que depende exclusivamente de indicar para o software o que é primeiro parágrafo de capítulo, o que é título, o que é citação ou poema ou nome de autor e da obra, podemos passar para a próxima etapa.

Como fazer a capa do seu livro

Com paciência e disposição, você pode arranjar algumas horas no seu dia para aprender a usar ferramentas como o Illustrator e o Photoshop. Contudo, se quer uma capa rápida e com um bom acabamento, a própria Amazon tem, dentro do KDP, um aplicativo que gera sua capa ideal com o mínimo de esforço.

Melhor ainda, ela já vem diagramada e preparada para o tamanho do seu livro, tendo também a lateral (que possui uma conta específica de acordo com o número de páginas e a gramatura do papel) e a parte de trás (que seria a back cover, em inglês).

Obviamente, se quer uma capa bonita e distinta, talvez valha a pena contratar um profissional para fazê-la, mas eu mesmo fiz a minha, tanto para a versão digital quanto para a versão física do livro, e com isso não gastei um real.

Disponibilize seu livro na Amazon

Sem grandes mistérios, a última etapa é colocar seu livro no aplicativo, decidir o quanto ele vai valer e enviar para avaliação.

Contudo, nessa última etapa entra um detalhe extremamente relevante.

Atualmente, a KDP do Brasil possui apenas estrutura para disponibilizar os livros digitais. Caso queira o livro físico, é necessário vendê-lo pela Amazon.com, ao invés da Amazon.com.br. Isso tem vantagens e desvantagens, como, por exemplo:

    • Vender pela Amazon.com implica em ganhar em dólar;
    • … mas também significa pagar taxa de importação e shipping em dólar;
    • Se o seu livro possuir uma versão em inglês, está aberto ao mercado internacional;
    • A compra, como é feita no site estrangeiro, é toda em inglês e eles só aceitam crédito;

E por aí vai.

Existe uma infinidade de questões a levar em conta, ainda assim, considerando que o valor médio de um livro, preço de capa (que eles disponibilizam para compra no espaço do autor desconsiderando o lucro da Amazon em cima do valor) ficará em torno de 2 dólares e 50 cents, com o dólar a aproximadamente 4 reais no momento em que escrevo isso, seu livro pronto sai a 10 reais a unidade.

Isso, claro, para qualquer volume que quiser comprar.

Por comparação, uma prestadora de serviços, para produzir a 10 reais a unidade pediria pelo menos 500 unidades encomendadas (o mais provável são 1000 unidades).

Essas unidades que encomenda no espaço do autor são suas para vender pelo valor que quiser, ou distribuir, e ainda existem as vendidas no site, que saem a, pelo menos, 5 dólares.

Ou seja, considerando que uma pessoa no Brasil compre seu livro pelo site, a esse preço mínimo de 5 dólares, somada uma taxa de shipping de mais uns 5 dólares, o total da venda é 10 dólares, ou aproximadamente 40 reais.

Isso fica muito mais barato que a maioria dos livros nas livrarias brasileiras, e com a segurança garantida de uma multinacional como a Amazon.

Epílogo: como publiquei meu segundo livro

Já estamos em 2018 nessa narrativa que durou 3 anos e muitos livros, contas e cálculos.

A Pedra no Caminho foi lançada digitalmente 15 de Maio de 2017, como um MPV. A Pergunta no Espelho veio em seguida, também digital, dia 20 de novembro do mesmo ano.

Pela facilidade, decidi produzir a versão física. Foi nessa etapa que gastei dinheiro, e valeu bastante a pena.

Para um maior acabamento, enviei o material para um revisor, e gastei com isso, com um certo desconto, 900 reais. Esse foi o único valor para produzir o livro, além dos livros que comprei pelo espaço do autor no KDP e revendi em seguida, conseguindo uma pequena margem de lucro, mais simbólica que tudo.

A Pergunta no Espelho, física, saiu de fato em fevereiro de 2018.

Mas eu não poderia parar por aí.

Foi quando decidi continuar meus projetos, juntei até mesmo com um fotógrafo para fazer um material profissional, e lancei meu segundo livro, por enquanto apenas em formato digital: Réquiem para um Amor.

O Réquiem era uma coletânea de contos e crônicas curtas produzidas ao longo desses três anos. Foi de certa forma o encerramento de um ciclo.

Para manter meus gastos baixos, mantive-o apenas digital e paguei por uma revisão, nos moldes do primeiro livro. Contudo, caso quisesse disponibilizá-lo como versão física, teria que fazer apenas algumas pequenas alterações e, em até 48 horas, o livro estaria à venda na Amazon.com.

Embora os e-books não sejam ainda produtos de consumo tão populares no Brasil, a tendência é que essa prática aumente, especialmente com o aumento no valor dos livros físicos e a digitalização crescente em todos os aspectos das nossas vidas.

Por isso, invisto nesse material tanto quanto em um livro físico. Muito do que vai determinar o sucesso e a popularidade do material não será onde ele se encontra, mas sobre o que ele fala (qualidade) e como você encontra seu público (marketing).

Espero que as dicas tenham ajudado.

João Scaldini

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